IMPROVIZAÇÕES PARA LIPATTI

IMPROVISAÇÕES PARA LIPATTI 08.04.2008, 21h00
JOÃO PAULO Esteves da Silva
é um dos mais criativos pianistas do jazz actual. A sua versatilidade musical alcança vastos domínios estilísticos, mostrando uma predilecção para o elemento lírico, neo-romântico, sem exclusão de umas aventureiras incursões no espaço da improvisação livre. Além da sua louvável actividade de concertista e da sua discografia (concretizada por vários álbuns de sucesso) João Paulo é também um poeta sensível. Entre 1999-2000, o escritor e jazzista romeno Virgil Mihaiu recebeu uma bolsa da parte do Instituto Camões, que aproveitou para pôr assim as bases do volume em inglês Jazz Connections in Portugal. No período de documentação desse livro, Mihaiu ficou a saber da admiração que tinha João Paulo para o grande pianista romeno DINU LIPATTI. Nascido e 19 de Março de 1917 em Bucareste e falecido tragicamente aos 33 anos, Lipatti fica um dos mais influentes mestres do teclado do século XX. Afilhado de George Enescu, estudou em Paris, sob a coordenação de Alfred Cortot e Nadia Boulanger (com que gravou arranjos a quatro mãos dos Liebeslieder Walzer de Brahms), tendo como professores Paul Dukas (composição) Charles Munch (acto de maestro). Nos poucos anos que a sorte lhe permitiu viver antes de morrer de leucemia (em Genebra, a 2 de Dezembro de 1950) Dinu Lipatti impôs-se não apenas como um instrumentista de rara integridade e requinto, mas também como verdadeiro modelo de sensibilidade ao piano. As suas interpretações das composições de Mozart e Chopin ficam exemplares, mas Lipatti exerceu a sua força de fascinação também por gravações antológicas de obras de Bach, dos concertos para Piano de Schumann e Grieg, das peças de Franz Liszt, Enescu, Ravel. De volta a Portugal como director do recém-criado Instituto Cultural Romeno em Lisboa, VIRGIL MIHAIU concebeu junto com João Paulo Esteves da Silva um concerto que tem como premissas não apenas a arte interpretativa de Dinu Lipatti, mas também o seu lado (menos conhecido) da arte da composição. Partindo de duas obras para piano de Dinu Lipatti – Sonatina Pour Piano (main gauche seule) e Nocturne en Fá dièse mineur – o músico português propõe-nos um recital onde a sua fantasia de improvisação deixa-se impregnar pelo espírito lipattiano. É evidente que do programa não faltarão alguns núcleos melódicos compostos pelo próprio João Paulo, utilizadas ad libitum, em função da lógica interna do discurso musical espontâneo. Como complemento lírico desta inédita experiência luso-romena, João Paulo Esteves da Silva e Virgil Mihaiu irão intercalar no fluxo melódico-harmónico do piano uns dos seus próprios textos, tal como o poema do brasileiro Murilo Mendes Estudo quase-patético em leitura paralela, portuguesa e romena. Menciona-se que em 1993 Virgil Mihaiu fundou o grupo romeno-britânico de jazz-poetry Jazzographics, que evoluiu – mudando de elementos – em palcos da Roménia, Inglaterra, Escócia, Sérvia, Áustria, Alemanha, Hungria, Irlanda do Norte, França.
Então, uma experiência poética-musical sem precedente na esfera das relações culturais entre Portugal e a Roménia, digna do interesse do público lisbonense cultivado.