Depois de ter sido acolhida pela capela São Bartolomeu da Sé Patriarcal de Lisboa e pelo Museu Nacional de Arqueologia, a Exposição Itinerante de Ícones Ortodoxos Romenos, intitulada "O ÍCONE - A LUZ DA ALMA" e da autoria de Călin Horia Vădan, estará patente, na última etapa do seu périplo lisboeta, no Instituto Cultural Romeno em Lisboa entre 3 de Novembro e 15 de Dezembro de 2010. É o terceiro ano consecutivo em que ICRL promove, em Lisboa, o projecto das Exposições itinerantes de ícones ortodoxos romenos e ateliers de criação.
O ÍCONE – A Luz da Alma
Presença silenciosa e luminosa, o ícone confere à alma uma sensibilidade particular. Tal como as flores abrem com o brilhar do sol, do mesmo modo a luz do ícone enche a alma de alegria.
Herdando de Deus o sentido da eternidade, a alma tem a consciência da necessidade de se desprender das coisas mundanas e nesse sentido terá sempre o desejo de aperfeiçoamento, de plenitude, de ultrapassar as fronteiras do tempo e da assolação.
Nessa perspectiva, o ícone chama-nos a uma perpétua ascensão, sendo, pelo testemunho que traz, um convite para o mundo do Além, para o Céu.
No anseio da alma de comungar com Deus, florescem nos nossos lábios orações que invocam a ajuda da Nossa Senhora, dos Santos, de todas as Potências Angélicas. Aquele que dignifica o ícone, dignifica a pessoa de quem nele está representado e a alma precisa disso para tornar mais profunda a piedade e para que a sua sensibilidade dê frutos na oração.
A aspiração de tornar perceptível o invisível, ganha corpo na Igreja, pela arte litúrgica (pelo cântico e pela cor), pelo pensamento teológico e pela vida espiritual. Encarada com os olhos da alma, a Igreja é a conciliação entre o Céu e a Terra, a conjugação do celeste com o mundano, graças à presença do Cristo. A via para alcançar os ensinamentos de Cristo consiste no cumprimento dos mandamentos e na dignificação dos sacramentos da Igreja.
Há alguns paradoxos que ultrapassam o nosso poder de entendimento, mas dentro da Igreja são assumidos enquanto vivências. Ao rezar a sós perante os ícones, tornamos os santos rezadores connosco, cumprindo-se assim a promessa de Cristo "Porque aonde dois ou três estiverem congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles."
O Próprio Senhor deu-nos o testemunho do poder da oração perante os ícones. Doente de lepra, o Rei Abgar da Edessa manda um servo seu, para chamar Cristo curá-lo. Na Sua grande misericórdia, O Senhor imprime numa toalha o Seu magnífico Rosto e envia-o para o rei curar.
Ícone por excelência, O Santo Véu é a primeira Imagem, oferecida directamente pelo Protótipo e que vai legitimar todos as outras: a da Theotokos (Mãe de Jesus), a dos Santos Apóstolos e de todos os Santos do calendário cristão. Essa é a altura do nascimento do ícone.
O ícone define-se, em primeiro lugar, enquanto discurso teológico através das imagens, reflectindo numa linguagem pictural, fortemente estruturada, a crença cristã desde as suas origens. Esse entendimento verdadeiro alicerça-se nas Escrituras (O Antigo e Novo Testamento), a Tradição Apostólica e os ensinamentos dos Santos Padres da Igreja.
O ícone constitui tanto a nossa entrada na Igreja, como na vida, pois na sua luz vemos na pessoa ao nosso lado, um "filho da Ressurreição". O ícone revela aquilo para que o homem é chamado potencialmente a tornar-se: de imagem para à semelhança com Deus. No ícone, o corpo humano é livrado das leis materiais, temporais e espaciais. Reduzida assim às suas propriedades originais, a imagem humana é eterna e à semelhança de Deus, Quem lhe serviu de modelo.
O ícone dá-nos o ensejo de erguer o nosso olhar para o Reino, bem como de nos deixarmos olhados por ele.
Călin Horia Vădan